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A História dentro da História

Fonte Históricas

By Lucas Tiburcio

15-12-2021

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FONTES HISTÓRICAS

 

O que vamos começar a desenvolver é a idéia de como o historiador vai estudar determinado acontecimento, povo, fato, ou período e verificar sua veracidade.

Como essa analise acontece?

Isso não ocorre simplesmente por que o historiador quer que aquilo se torne verdade ou da maneira que ele deseja, o historiador vai trabalhar vestígios, com as suas fontes, para chegar a uma conclusão.

Vamos explicar:

O trabalho do historiador deve ser semelhante à de um detetive, deve procurar detalhes, vestígios que posam servir como um cruzamento de dados pra comprovar o seu fato estudado.

As fontes históricas assim se tornam quando o historiador consegue inserir o seu item, ou a manifestação cultural, como objeto de pesquisa. Passando por uma série de metodologias que chegará a uma resposta sobre a fonte histórica. Assim sendo, objetos, danças, festas ou documentos podem ser usados como fontes históricas.

A classificação das fontes históricas se dá por meio da investigação do historiador. Existem várias fontes históricas, com múltiplas variedades entre elas: numismáticas, marcos da memória, sistemas de símbolos, cartas entre muitas outras.

Podem ser elas escritas ou não escritas (visuais, orais e da cultura material)

 

FONTES ESCRITAS

As fontes escritas (cartas, diários, leis, livros, jornais, documentos entre outros) foram, durante muitos séculos, os únicos vestígios considerados legítimos para o historiador recuperar o passado, pois para os historiadores apenas eram confiáveis aquilo que se representava escrito. Apenas em 1920 as outras fontes, (fotografias, imagens, objetos, entrevistas e a própria cultura material ou oral) começaram a ser igualmente importante para os estudos, podendo e devendo ser analisados como fontes históricas. Isso graças “à escola dos annales” e sua renovação no âmbito da história.

É de fato ainda hoje, uma fonte por muitas vezes mais fáceis de serem manuseadas, pois, muitos textos documentos jornais já nos trazem a informação que queremos de uma forma bem clara sem precisar muitas vezes de se preocupar em estudar profundamente aquela fonte.

Vamos a algumas fontes já estudadas como exemplos:

Vamos trabalhar com os documentos brasileiros.

Trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha

E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha -- segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas -- os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos. Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!”

Aqui só temos um trecho da carta, mas já da pra dizer que se trata do descobrimento do Brasil, já conhecemos o autor da carta e as informações que nela contém, por exemplo, o “monte Pascoal e a Terra de Vera Cruz, é através deste trecho que identificamos o primeiro nome dado ao nosso Brasil, e também a data do descobrimento 22 de abril.

A carta inteira e o cruzamento de alguns dados, vão levar o historiador a contar os fatos do descobrimento.

Vamos a mais um exemplo:


Lei Áurea

Lei Áurea - 1888 Lei nº 3.353, de 13 de Maio de 1888. DECLARA EXTINTA A ESCRAVIDÃO NO BRASIL A PRINCESA IMPERIAL Regente em Nome de Sua Majestade o Imperador o Senhor D. Pedro II, Faz saber a todos os súditos do IMPÉRIO que a Assembleia Geral decretou e Ela sancionou a Lei seguinte:

Art. 1º - É declarada extinta desde a data desta Lei a escravidão no Brasil.

Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário. Manda portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente, como nela se contém.

O Secretário de Estado dos Negócios d'Agricultura, Comércio e Obras Públicas e Interino dos Negócios Estrangeiros Bacharel Rodrigo Augusto da Silva do Conselho de Sua Majestade o Imperador, o faça imprimir, publicar e correr.

Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de Maio de 1888 - 67º da Independência e do Império. Carta de Lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o Decreto da Assembleia Geral, que houve por bem sancionar declarando extinta a escravidão no Brasil, como nela se declara.

Para Vossa Alteza Imperial ver.

 

 

 

 

Fica claro através desta lei a data que da extinção a escravidão no Brasil (13 de maio de 1888). No papel original desta lei vamos também encontrar o nome da princesa Isabel assinado, assim saberemos quem a decretou.

Assim como estes teremos muitos outros documentos já estudados e que vão nos ajudar a entender a história

Documentos antigos como:

 

Código de hamurábi cerca de 1780 a.C.

Contendo 282 leis este é o primeiro código civil já encontrado por escrito dentro da história.

vamos ler primeira lei:

Se alguém enganar a outrem, difamando esta pessoa, e este outrem não puder provar, então que aquele que enganou deve ser condenado à morte

Livro dos Mortos (O Papiro de Ani) - 240 a. C.

 

Que se trata de um hino de adoração ao deus Osíris, vamos a um trecho do hino.

 

Adoração a ti, Osíris, Senhor da eternidade, rei dos deuses, de muitos nomes, de formas sagradas, de ritos secretos em templos!

Nobre de Ka, Aquele que preside em Djedu (Busíris).

Aquele que é rico em sustentação em Sekhem (Letópolis),

Senhor aclamado em Andjty (Nomo Nove do Baixo Egito),

Principal em ofertas em On (Heliópolis).

Senhor da lembrança no Salão da Justiça,

Ba secreto do senhor da caverna,

Sagrado em Muralha Branco (Mênfis),

Ba de Rá, seu próprio corpo.

Quem repousa em Hnes (Heracleópolis Magna)

Quem é adorado na Arvore Naret

 

 

 

Documento contemporâneo

 

Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão - 1948

 

Declaração Universal dos Direitos Humanos, Adotada e proclamada pela Resolução nº 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Assinada pelo Brasil na mesma data. E composta por 30 artigos

 

Vamos ver 3 destes artigos:

 

Artigo 1º Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.

 

Artigo 4º Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

 

Artigo 5º Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

 

FONTES HISTÓRICAS NÃO ESCRITAS

As fontes não escritas são representadas pelos áudios, imagens, vestimentas, acessórios, trechos de filme e vídeos e muitos outros. São eles classificados da seguinte forma:

 

Fonte visual:

Fotografia, pintura, desenho, quadros, cartões postais são consideradas fontes visuais

 

Vamos a alguns exemplos: uma foto de família, um quadro de um artista, ou desenhos encontrados em pedras (desenhos rupestres) como os da pré historia.

 

Esta tão conhecida obra de Leonardo Da Vinci “Mona lisa” exposta no museu do Louvre, na França, já analisada por vários historiadores vai trazer diversas informações, seu período (renascentista) informações sobra a técnica utilizada pelo autor da obra (sfumato). O historiador pode ir muito além, quem era a pessoa da foto? por que foi pintada? A imagem do fundo, onde se encontra se existe ou não, enfim vai trazer varias possibilidades para ser pensada. O historiador com cruzamento dos dados de outras pinturas do próprio autor ou até de outros autores pode começar a estudar aquele período e determinar pontos em comum entre as obras, ou mesmo diferenças, mostrando características vividas naquele momento.

 

Fonte oral

Cantiga, musicas, lenda, entrevista etc.

 

Outra forma de buscar a história de determinado povo é através das diversas formas de expressão cultural como contos, lendas e fábulas. São as chamadas fontes orais, nas quais, muitas vezes, ocorre, entrevistas com pessoas mais velhas, que tiveram acesso às informações e as passam aos mais novos, uma rica fonte histórica passada de geração em geração. Povos africanos quando chegaram ao Brasil, escravizados, mantinham suas memórias vivas através de seus anciões, suas lendas e cantigas assim mantiveram suas culturas e origens sempre vivas. É também através da fonte oral que temos grandes informações sobre a cultura indígena, seus mitos e seu passado, foram conhecidos graças aos seus contos e lendas.


Música como fonte oral:

O bêbado e o equilibrista

Compositores: Aldir Blanc / Joao Bosco

Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos
A lua, tal qual a dona de um bordel
Pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel
E nuvens, lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas, que sufoco
Louco, o bêbado com chapéu-côco
Fazia irreverências mil pra noite do Brasil, meu Brasil
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu num rabo-de-foguete
Chora a nossa pátria, mãe gentil
Choram Marias e Clarices no solo do Brasil
Mas sei, que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente, a esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se machucar
Azar, a esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista tem que continuar

 

A música também pode ser uma fonte histórica muito importante para entendermos um momento período ou fato. Por exemplo, se pegarmos esta música acima (vale a pena ouvir se você não a conhece) teremos muita informação sobre seu momento. Em 1979 ano que a música foi laçada o Brasil passava por um momento de ditadura, alguns artistas da época estavam sendo exilados, acusados de perigosos pelo regime militar, para que estes artistas conseguissem se manifestar tinha que usar de sua criatividade, transformando suas letras em duplo sentido para que não houvesse censura, esta música é uma composição que mostra claramente alguns fatos dos anos 70 como a queda do viaduto Paulo de Frontin que matou 29 pessoas e ficou até hoje sem uma investigação conclusiva, faz uma homenagem ao personagem vivido pelo ator Charlie Chaplin que veio a nos deixar em 1977, faz referencia a objetos como o mata borrão muito utilizado para absorver o excesso das tintas de caneta, e ainda faz duras criticas a ditadura se tornando um grande hino para aqueles que lutavam pela anistia. Uma simples musica e muita informação pelo que podemos ver.

Fontes materiais

Móveis, máquinas, moedas, armas, vestimentas e objetos em geral.

 

A cultura material pode ser uma fonte tão importante como qualquer outra, um osso que foi usado como arma na pré-história ou uniforme usado por um soldado antigo, armas utilizadas em guerra tudo isso e muito mais podem está trazendo idéias de uma época, e assim poderemos entender sobre determinada sociedade e cultura de um povo.

 

Arquivo pessoal numismático de Lucindo Tiburcio (moedas do Brasil Colonial 1815 – 1816 – 1814)

 

Uma moeda pode conter nela informações sobre o ano e o governo que ali se encontrava, seu tipo de material pode conter informações sobre metais preciosos e até mesmo sobre a economia da época. Isso são apenas alguns exemplos que podemos dar, o trabalho do historiador vai ter muitas vertentes a serem trabalhadas e assim concluir seus estudos.

 

Conhecimento histórico

Para aprender a analisar alguns fatos vamos a alguns passos importantes:

Primeira coisa que temos que fazer é escolher o assunto ser investigado, e vamos delimitar o local e seu tempo

Por exemplo: Brincadeiras infantis no Brasil dos anos 90. Quais eram? Suas regras? O que utilizavam?

Segunda coisa será reunir fontes históricas a serem utilizadas

Por exemplo: livros, revistas, fotografias, musicas, objetos, entrevistas com pessoas que viveram esse período e por ai vai...

Terceira coisa é trabalhar suas fontes encontradas:

Por exemplo: ler sobre o assunto, ver as fotos, escutar as entrevistas, e se possível pode até reproduzi-las, depois, organizar o material, analisar, comparar e verificar a confiabilidade das fontes.

O quarto e ultimo passo é construir a própria interpretação sobre o assunto escolhido.

Lembrado que o historiador não irá jamais construir uma verdade absoluta e definitiva sobre um assunto do passado, sempre irá construir uma versão dos fatos, podendo ser questionada, criticada, revisada, ou superada por outros historiadores e por novas pesquisas.

 

Conhecimento e interdisciplinaridade

A história não deve e não vai trabalhar sozinha, todo o conhecimento alcançado vai ter o apoio de outras ciências (arqueologia, antropologia, geografia, sociologia, psicologia, lingüística) entre outras. Sempre fazendo um trabalho em conjunto, o arqueólogo, por exemplo, vai escavar e encontrar, objetos, ossos e fosseis, pertencentes a povos antigos, depois estes materiais são levados aos laboratórios onde serão analisados, verificados por outras áreas podendo dar uma datação ao material e até outras informações necessárias. Assim o historiador conseguirá obter um maior conhecimento sobre a humanidade ao decorrer dos tempos.

 

 

 

 

Somos a história dentro da história

A história não é só feita de grandes personagens, (Reis imperadores Governantes) a história é viva e nos somos agentes da história, podemos pesquisar sobre os assuntos e também podemos ser fontes de novas pesquisas tanto no futuro como no agora. Seu modo de se vestir diz como é a moda dos anos 2020 seus brincos, roupas, bonés são fontes de cultura material sobre você, suas fotos são fontes visuais sobre você, seus textos e documentos são fontes escritas sobre você. Nossa política, religião, até mesmo o momento de pandemia que passamos atualmente são fontes sobre a nossa sociedade. Estamos o tempo todo produzindo fontes e mais fontes.

 


 


 

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Sobre o Autor

Lucas Tiburcio

Sou um entusiasta da História, nascido e morador da cidade de Petrópolis - RJ, formando em licenciatura e pós graduado em games e gamificação na educação, administrador do site a História dentro da História, além de pesquisador e Professor.